Dona-Redonda
"Quem tropeça é sempre alguém que se distrai a olhar para as estrelas" Vladimir Nabokov (nome do blogue veio do livro para crianças de Virgínia de Castro e Almeida)
quinta-feira, março 28, 2024
Não sabia que era possivel
"Pessoas estão vendo cores pela primeira vez graças a estes óculos
Criados acidentalmente, os óculos da EnChroma estão ajudando muita gente a superar limitações do daltonismo"
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quarta-feira, março 27, 2024
terça-feira, março 26, 2024
segunda-feira, março 25, 2024
Um Toque de Escuridão Hades e Perséfone N.º 1 de Scarlett St. Clair - LIvros 2024 (17)
Um Toque de Escuridão Hades e Perséfone N.º 1 de Scarlett St. Clair
domingo, março 24, 2024
sábado, março 23, 2024
sexta-feira, março 22, 2024
quinta-feira, março 21, 2024
quarta-feira, março 20, 2024
CNEC 67/39 - 10/10
Estávamos no Verão, mas o céu era de azul carregado e
o sol nunca parecera tão distante e indiferente ao que se passa na Terra.
Pouco dormira naquela noite e quando me levantei tudo
me pesava.
Estacionei o carro não muito perto, mas apesar dos
meus passos arrastados, era como que puxado para aquele edifício cinzento.
Nenhum cataclismo me iria impedir de lá chegar, nenhum motivo surgira para o
postergar.
Reparei então na jovem à minha frente. Dir-se-ia que
saltitava e quase não acreditei quando percebi que íamos para o mesmo local.
Vi como sorria à funcionária que lhe veio abrir a
porta e desaparecia lá dentro.
Pouco depois fui eu que cheguei à porta e tive de entrar.
Era a minha primeira vez ali. Respondi às questões em
falta para completar a minha ficha e sentei-me à espera.
Parecia impossível como lá fora a vida continuava. Ali
dentro tudo parecia ter parado. Cada vez mais distante do antes, não conseguia
sequer sonhar com o depois, tanto me preocupava o durante.
A funcionária veio dizer que era a minha vez e fiquei
em choque. Não vira a jovem saltitante sair. Não percebia como podia ter
passado por mim sem que eu reparasse nela, e sem assistir à sua saída não
tivera mais alguns necessários segundos para me preparar para a minha iminente
entrada.
A funcionária conduziu-me à sala, indicou-me a cadeira
onde me sentei, senti o cheiro do desinfectante, vi-me rodeada de brocas e
instrumentos parecidos próprios daquela sala de horror.
Veio então a Srª Drª e nela reconheci a jovem
saltitante. Estava desvendado o mistério, como conseguia ela sorrir assim.
Sem queixas, nem cáries, não foi tão demorado o
durante.
Lá fora o mundo mudara e esperava-me um dia bom, mesmo
que chovesse, haveria sol leve, quente e brilhante.
terça-feira, março 19, 2024
segunda-feira, março 18, 2024
domingo, março 17, 2024
sábado, março 16, 2024
sexta-feira, março 15, 2024
quinta-feira, março 14, 2024
CNEC 67/39 - 9/10
Durante anos ele marcou a passagem do tempo, sem se enganar ou se atrasar
um segundo que fosse, sublinhou todas as horas, “dong, dong, dong”, um som melodioso
e audível, companhia de todos os dias
Tinha o seu lugar na sala de estar, pendurado na parede, entre os quadros
de molduras douradas e paisagens bucólicas. Espreitou as visitas que se
sentavam nos sofás. Reparou como foram rareando, assim como o tom do tecido
rosa dos sofás ia ficando esbatido e os cortinados menos transparentes.
O Rique, filho do casal, foi estudar para fora, formou-se doutor, passou
a morar longe.
Ao Sr. Doutor que pouco parava em casa, a reforma caiu mal, também ele
desapareceu.
Ficou só a Dona Ema. Era ela que lhe dava corda, cada dia, pelas três da
tarde, logo a seguir ao “dong, dong, dong” com que a saudava. Ouvia os seus
passos leves, via-a a olhar para si, sentia as suas mãos suaves a trazerem-lhe
força para continuar sempre, sem se atrasar.
Até àquele dia.
A humidade infiltrara-se pela parede, escondida pelo papel de parede rosa
e pela estante, foi corroendo o estuque do parafuso que o suportava. Antes das
quinze horas, e a casa no maior silêncio, viu-se a cair no chão desemparado,
com estrondo.
A Dona Ema queria socorre-lo, mas já não andava muito bem. Não ligara aos
suores frios, à dor no braço. Estava tão frágil que o inesperado foi suficiente
para a fazer cair sobre o sofá. Quem iria valer-lhes aos dois?
Por sorte vivia ao lado uma amiga. Mais que o estrondo, estranhou a falta
do “dong, dong, dong”. Ligou à Dona Ema e ao 112.
O médico disse depois à D. Ema que por pouco que se salvara, mais uns
dias, seria tarde demais.
O relógio avariado foi também concertado.