terça-feira, novembro 14, 2017

Post 6453 - Desafio de Escrita - 9/10

Entrou no café, olhou à sua volta e voltou a sair.
Tentou agir normalmente. Não seria para cancelar, e talvez se resolvesse aguardando alguns minutos.
Esfregou as mãos frias, tentando aquecê-las e percebeu que estava a transpirar. Suor gelado parecia cobrir todo o seu corpo. Estava enjoado e não tinha dormido nada ou quase nada naquela noite. Atravessou para o outro lado da rua e puxou de um cigarro. Decorreram os poucos minutos que tinha previsto, e o agente policial saiu do café, com ar vagaroso retomou a ronda.
Aguardou que ele virasse a esquina e deixasse de ser visível, como se tivesse sido devorado pelo nevoeiro que tinha descido sobre eles, antes do anoitecer.
Deitou o cigarro para o chão ainda em meio e calcou-o. Era hora de agir.
Tentando andar normalmente, dirigiu-se de novo para o seu objectivo.
Entrou. Lá dentro, apenas o dono limpava o balcão e um casal num canto mastigava um lanche triste, sem falarem, nem se olharem.
Avançou decidido e puxou da pistola: “abra a caixa e passe para cá o dinheiro” dirigiu ao dono. Falou em voz baixa, mas mesmo assim o casal ouviu-o. Não pareceram alarmados, mas apenas curiosos.
O dono olhou-o: “Aqui não há nada para ti”. Levantou a arma para que fosse mais visível, sem qualquer reacção, ou pelo menos sem a que pretendia. O homem à sua frente continuava sem parecer assustado e sim aborrecido. Todavia, dirigiu-se para a caixa e abriu a gaveta: “Serve-te”. Pelo barulho já o adivinhava, mas confirmou-o com o olhar, estava vazia. Ainda pensou se seria de dirigir‑se ao casal mas decidiu ir embora. Quando saia, ainda ouviu o homem à mesa perguntar: “Vamos atrás dele?” e a resposta lacónica “Não vale a pena”.
Ficou a pensar nessa frase. Falhara também ali.

6 comentários:

  1. Continuo a gostar imenso do que escreve.
    Um abraço

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  2. Gostei muito do texto, Gábi. Que é um pouco triste. E que faz lembrar um outono triste.
    Quem ainda não se sentou a um canto de café a "mastigar um lanche triste", ainda que sem armas por perto?
    Um beijinho e continuação de boas escritas.
    Dolores

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  3. Respostas
    1. Espero que entretanto consiga sucesso noutra carreira lícita...

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